quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Médicos cubanos no Haiti deixam o mundo envergonhado

Números divulgados na semana passada mostram que o pessoal médico cubano, trabalhando em 40 centros em todo o Haiti, tem tratado mais de 30.000 doentes de cólera desde outubro. Eles são o maior contingente estrangeiro, tratando cerca de 40% de todos os doentes de cólera. Um outro grupo de médicos da brigada cubana Henry Reeve, uma equipe especializada em desastre e em emergência, chegou recentemente. Uma brigada de 1.200 médicos cubanos está operando em todo o Haiti, destroçado pelo terremoto e pela cólera. Enquanto isso, a ajuda prometida pelos EUA e outros países...O artigo é de Nina Lakhani, do The Independent

Eles são os verdadeiros heróis do desastre do terremoto no Haiti, a catástrofe humana na porta da América, a qual Barack Obama prometeu uma monumental missão humanitária dos EUA para aliviar. Esses heróis são da nação arqui-inimiga dos Estados Unidos, Cuba, cujos médicos e enfermeiros deixaram os esforços dos EUA envergonhados.

Uma brigada de 1.200 médicos cubanos está operando em todo o Haiti, rasgado por terremotos e infectado com cólera, como parte da missão médica internacional de Fidel Castro, que ganhou muitos amigos para o Estado socialista, mas pouco reconhecimento internacional.

Observadores do terremoto no Haiti poderiam ser perdoados por pensar operações de agências de ajuda internacional e por os deixarem sozinhos na luta contra a devastação que matou 250.000 pessoas e deixou cerca de 1,5 milhões de desabrigados. De fato, trabalhadores da saúde cubanos estão no Haiti desde 1998, quando um forte terremoto atingiu o país. E em meio a fanfarra e publicidade em torno da chegada de ajuda dos EUA e do Reino Unido, centenas de médicos, enfermeiros e terapeutas cubanos chegaram discretamente. A maioria dos países foi embora em dois meses, novamente deixando os cubanos e os Médicos Sem Fronteiras como os principais prestadores de cuidados para a ilha caribenha.

Números divulgados na semana passada mostram que o pessoal médico cubano, trabalhando em 40 centros em todo o Haiti, tem tratado mais de 30.000 doentes de cólera desde outubro. Eles são o maior contingente estrangeiro, tratando cerca de 40% de todos os doentes de cólera. Um outro grupo de médicos da brigada cubana Henry Reeve, uma equipe especializada em desastre e em emergência, chegou recentemente, deixando claro que o Haiti está se esforçando para lidar com a epidemia que já matou centenas de pessoas.

Desde 1998, Cuba treinou 550 médicos haitianos gratuitamente na Escola Latinoamericana de Medicina em Cuba (Elam), um dos programas médicos mais radicais do país. Outros 400 estão sendo treinados na escola, que oferece ensino gratuito - incluindo livros gratuitos e um pouco de dinheiro para gastar - para qualquer pessoa suficientemente qualificada e que não pode pagar para estudar Medicina em seu próprio país.

John Kirk é um professor de Estudos Latino-Americanos na Universidade Dalhousie, no Canadá, que pesquisa equipes médicas internacionais de Cuba. Ele disse: "A contribuição de Cuba, como ocorre agora no Haiti, é o maior segredo do mundo. Eles são pouco mencionados, mesmo fazendo muito do trabalho pesado.".

Esta tradição remonta a 1960, quando Cuba enviou um punhado de médicos para o Chile, atingido por um forte terremoto, seguido por uma equipe de 50 a Argélia em 1963. Isso foi apenas quatro anos depois da Revolução.

Os médicos itinerantes têm servido como uma arma extremamente útil da política externa e econômica do governo, gahando amigos e favores em todo o globo. O programa mais conhecido é a "Operação Milagre", que começou com os oftalmologistas tratando os portadores de catarata em aldeias pobres venezuelanos em troca de petróleo. Esta iniciativa tem restaurado a visão de 1,8 milhões de pessoas em 35 países, incluindo o de Mario Terán, o sargento boliviano que matou Che Guevara em 1967.

A Brigada Henry Reeve, rejeitada pelos norteamericanos após o furacão Katrina, foi a primeira equipe a chegar ao Paquistão após o terremoto de 2005, e a última a sair seis meses depois.

A Constituição de Cuba estabelece a obrigação de ajudar os países em pior situação, quando possível, mas a solidariedade internacional não é a única razão, segundo o professor Kirk. "Isso permite que os médicos cubanos, que são terrivelmente mal pagos, possam ganhar dinheiro extra no estrangeiro e aprender mais sobre as doenças e condições que apenas estudaram. É também uma obsessão de Fidel e ele ganha votos na ONU."

Um terço dos 75 mil médicos de Cuba, juntamente com 10.000 trabalhadores de saúde, estão atualmente trabalhando em 77 países pobres, incluindo El Salvador, Mali e Timor Leste. Isso ainda deixa um médico para cada 220 pessoas em casa, uma das mais altas taxas do mundo, em comparação com um para cada 370 na Inglaterra.

Onde quer que sejam convidados, os cubanos implementam o seu modelo de prevenção com foco global, visitando famílias em casa, com monitoração proativa de saúde materna e infantil. Isso produziu "resultados impressionantes" em partes de El Salvador, Honduras e Guatemala, e redução das taxas de mortalidade infantil e materna, redução de doenças infecciosas e deixando para trás uma melhor formação dos trabalhadores de saúde locais, de acordo com a pesquisa do professor Kirk.

A formação médica em Cuba dura seis anos - um ano mais do que no Reino Unido - após o qual todos trabalham após a graduação como um médico de família por três anos no mínimo. Trabalhando ao lado de uma enfermeira, o médico de família cuida de 150 a 200 famílias na comunidade em que vive.

Este modelo ajudou Cuba a alcançar alguns índices invejáveis de melhoria em saúde no mundo, apesar de gastar apenas $ 400 (£ 260) por pessoa no ano passado em comparação com $ 3.000 (£ 1.950) no Reino Unido e $ 7.500 (£ 4,900) nos EUA, de acordo com Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento.

A taxa de mortalidade infantil, um dos índices mais confiáveis da saúde de uma nação, é de 4,8 por mil nascidos vivos - comparável com a Grã-Bretanha e menor do que os EUA. Apenas 5% dos bebês nascem com baixo peso ao nascer, um fator crucial para a saúde a longo prazo, e a mortalidade materna é a mais baixa da América Latina, mostram os números da Organização Mundial de Saúde.

As policlínicas de Cuba, abertas 24 horas por dia para emergências e cuidados especializados, é um degrau a partir do médico de família. Cada uma prevê 15.000 a 35.000 pacientes por meio de um grupo de consultores em tempo integral, assim como os médicos de visita, garantindo que a maioria dos cuidados médicos são prestados na comunidade.

Imti Choonara, um pediatra de Derby, lidera uma delegação de profissionais de saúde internacionais, em oficinas anuais na terceira maior cidade de Cuba, Camagüey. "A saúde em Cuba é fenomenal, e a chave é o médico de família, que é muito mais pró-ativo, e cujo foco é a prevenção. A ironia é que os cubanos vieram ao Reino Unido após a revolução para ver como o HNS [Serviço Nacional de Saúde] funcionava. Eles levaram de volta o que viram, refinaram e desenvolveram ainda mais, enquanto isso estamos nos movendo em direção ao modelo dos EUA ", disse o professor Choonara.

A política, inevitavelmente, penetra muitos aspectos da saúde cubana. Todos os anos os hospitais produzem uma lista de medicamentos e equipamentos que têm sido incapazes de acesso por causa do embargo americano, o qual que muitas empresas dos EUA de negociar com Cuba, e convence outros países a seguir o exemplo. O relatório 2009/10 inclui medicamentos para o câncer infantil, HIV e artrite, alguns anestésicos, bem como produtos químicos necessários para o diagnóstico de infecções e órgãos da loja. Farmácias em Cuba são caracterizados por longas filas e estantes com muitos vazios. Em parte, isso se deve ao fato de que eles estocam apenas marcas genéricas.

Antonio Fernandez, do Ministério da Saúde Pública, disse: "Nós fazemos 80% dos medicamentos que usamos. O resto nós importamos da China, da antiga União Soviética, da Europa - de quem vender para nós - mas isso é muito caro por causa das distâncias."

Em geral, os cubanos são imensamente orgulhosos e apóiam a contribuição no Haiti e outros países pobres, encantados por conquistar mais espaço no cenário internacional. No entanto, algumas pessoas queixam-se da espera para ver o seu médico, pois muitos estão trabalhando no exterior. E, como todas as commodities em Cuba, os medicamentos estão disponíveis no mercado negro para aqueles dispostos a arriscar grandes multas se forem pegos comprando ou vendendo.

As viagens internacionais estão além do alcance da maioria dos cubanos, mas os médicos e enfermeiros qualificados estão entre os proibidos de deixar o país por cinco anos após a graduação, salvo como parte de uma equipe médica oficial.

Como todo mundo, os profissionais de saúde ganham salários miseráveis em torno de 20 dólares (£ 13) por mês. Assim, contrariamente às contas oficiais, a corrupção existe no sistema hospitalar, o que significa que alguns médicos e até hospitais, estão fora dos limites a menos que o paciente possa oferecer alguma coisa, talvez almoçar ou alguns pesos, para tratamento preferencial.

Empresas internacionais de Cuba na área da saúde estão se tornando cada vez mais estratégicas. No mês passado, funcionários mantiveram conversações com o Brasil sobre o desenvolvimento do sistema de saúde pública no Haiti, que o Brasil e a Venezuela concordaram em ajudar a financiar.

A formação médica é outro exemplo. Existem atualmente 8.281 alunos de mais de 30 países matriculados na Elam, que no mês passado comemorou o seu 11 º aniversário. O governo espera transmitir um senso de responsabilidade social para os alunos, na esperança de que eles vão trabalhar dentro de suas próprias comunidades pobres pelo menos cinco anos.

Damien Joel Soares, 27 anos, estudante de segundo ano de New Jersey, é um dos 171 estudantes norte-americanos; 47 já se formaram. Ele rejeita as alegações de que Elam é parte da máquina de propaganda cubana. "É claro que Che é um herói, mas aqui isso não é forçado garganta abaixo."

Outros 49.000 alunos estão matriculados no "Novo Programa de Formação de Médicos Latino-americanos", a ideia de Fidel Castro e Hugo Chávez, que prometeu em 2005 formar 100 mil médicos para o continente. O curso é muito mais prático, e os críticos questionam a qualidade da formação.

O professor Kirk discorda: "A abordagem high-tech para as necessidades de saúde em Londres e Toronto é irrelevante para milhões de pessoas no Terceiro Mundo que estão vivendo na pobreza. É fácil ficar de fora e criticar a qualidade, mas se você está vivendo em algum lugar sem médicos, ficaria feliz quando chegasse algum."

Há nove milhões de haitianos que provavelmente concordariam.

Cuban medics in Haiti put the world to shame

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Estadão: deslavar dinheiro é anistiar ladrão!

A quem o senador Delcídio quer anistiar ?


Saiu no Estadão online:

Projeto para repatriar até US$ 100 bi vai anistiar corruptos, alertam juízes


Juízes federais que atuam em processos sobre crimes financeiros e desvios de recursos da União alertam para “efeitos nocivos” do projeto Cidadania Fiscal (354/09), que avança no Senado e contempla com anistia tributária e penal contribuintes brasileiros que repatriarem valores mantidos no exterior e não declarados à Receita. O governo estima em US$ 100 bilhões a fortuna que circula fora do País.


“O projeto é uma vergonha”, classifica o juiz Sérgio Moro, titular da 2.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, especializada em processos contra réus por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e fraudes. “Embora a anistia seja destinada a crimes fiscais, de descaminho e financeiros, incluindo a evasão de divisas, na prática vai favorecer todo tipo de criminoso.”


Na avaliação de Moro, o projeto poderá contemplar fraudadores do Tesouro e políticos que remeteram recursos públicos para paraísos fiscais. “Um corrupto não vai internar o dinheiro no País declarando ser ele produto de corrupção. Vai ser muito difícil investigar e discriminar a origem desse dinheiro.”


O projeto concede extinção da punibilidade dos respectivos crimes contra a ordem tributária e crimes contra a administração pública também relacionados com a retificação da declaração.


Com relação aos bens e direitos declarados, serão mantidas a extinção da punibilidade ou a anistia penal ainda que a autoridade fiscal verifique que o patrimônio do contribuinte no exterior não tenha sido declarado na sua integralidade.


Os magistrados assinalam que o projeto não exige que seja comprovada a origem do dinheiro nem que se esclareça como ele foi parar no exterior. “O ideal seria a comunicação a uma instituição confiável, como o Ministério Público ou a Polícia Federal, para verificação da possível origem e natureza criminosa dos valores, especificamente se provenientes de outros crimes que não os abrangidos na anistia”, sugere Moro.


Ao tratar da anistia, o projeto é taxativo. “Torna-se absolutamente imperioso dar ao contribuinte a segurança jurídica de que sua adesão afasta, inequivocamente, a aplicação de penalidades, principais ou acessórias de natureza tributária e, particularmente, de caráter penal.”


O projeto é de autoria do senador Delcídio Amaral (PT-MS). “Só faz crítica quem não leu o projeto”, ele rebate. “Esse dinheiro trazido de volta poderá ser investido em infraestrutura, habitação, agronegócio, ciência e tecnologia.” O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), relator na Comissão de Assuntos Econômicos, recomendou a aprovação e deu vista coletiva.


Pessoa física que retificar sua declaração de IR, ao invés de pagar a alíquota de 27,5%, deverá recolher à Receita, sem multa ou juros, 5% sobre o valor global dos bens ou direitos recém-declarados localizados no País.


Essa alíquota pode cair pela metade caso o contribuinte aplique os valores repatriados em determinadas áreas definidas. No caso das pessoas jurídicas, a regularização se dará pela incidência do IRPJ e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), com alíquotas de 10% e 8% respectivamente.


A Associação dos Juízes Federais (Ajufe) entregou nota técnica a todos os senadores. “O Brasil não pode aceitar esse tratamento benéfico ao capital que vai para o exterior de forma criminosa, na maioria das vezes fruto da corrupção ou do tráfico internacional de drogas”, alerta Gabriel Wedy, presidente da Ajufe. “Essas operações são promovidas por organizações criminosas que fazem a remessa de seus lucros. O dinheiro da corrupção na política brasileira é obviamente encaminhado de forma ilícita. A sociedade não aceita mais esse tratamento privilegiado para corruptos. O projeto viola o princípio constitucional da moralidade.”


Os juízes alegam que haverá grande dificuldade para discriminar a natureza e origem do dinheiro repatriado. “Fortalece o mercado negro de câmbio, que é utilizado não só para sonegar e remeter fraudulentamente dinheiro ao exterior por empresários e empresas, mas também usualmente pelo crime organizado e por agentes públicos corruptos em esquemas de lavagem de dinheiro”, acentua Sérgio Moro.


“A lição passada aos cidadãos pelo projeto é “não declare, não cumpra com suas obrigações que um dia o governo o anistia”", adverte o juiz federal Ivo Anselmo Höhn Junior. “Por mais que a intenção seja a de atrair recursos para investimentos, creio que os prejuízos à moralidade e o incentivo à sonegação não compensam.”

Marcos Coimbra: O Ministério Dilma

por Marcos Coimbra*, no Correio Braziliense

Por mais que a esperemos, é sempre surpreendente a má vontade de nossa “grande imprensa” para com o governo Dilma. No modo como os principais jornais de São Paulo e do Rio têm discutido o ministério, vê-se, com clareza, seu tamanho.

A explicação para isso pode ser o ainda mal digerido desapontamento com o resultado da eleição, quando, mais uma vez, o eleitor mostrou que a cobertura da mídia tradicional tem pouco impacto nas suas decisões de voto. Ou, talvez, a frustração de constatar quão elevadas são as expectativas populares em relação ao próximo governo, contrariando os prognósticos das redações.

As críticas ao ministério que foi anunciado na última semana estavam prontas, qualquer que fosse sua composição política, regional ou administrativa. Se Dilma chamasse vários colaboradores do atual governo, revelaria sua “submissão” a Lula, se fossem poucos, sua “traição”. Se houvesse muita gente de São Paulo, a “paulistização”, se não, que “dava o troco” ao estado, por ter perdido a eleição por lá. Se convidasse integrantes das diversas tendências que existem dentro do PT, que se curvava às lutas internas, se não, que alimentava os conflitos entre elas. E por aí vai.

Para qualquer lado que andasse, Dilma “decepcionaria” quem não gosta dela, não achou bom que ela vencesse e não queria a continuidade do governo Lula. Ou seja, desagradaria aqueles que não compartilham os sentimentos da grande maioria do país, que torce por ela, está satisfeita com o resultado da eleição e quer a continuidade.

Na contabilidade matematicamente perfeita da “taxa de continuísmo” do ministério, um jornal carioca foi rigoroso: exatos 43,2% dos novos integrantes do primeiro escalão ocuparam cargos no governo Lula (o que será que quer dizer 0,2% de um ministro?). E daí? Isso é pouco? Muito? O que haveria de indesejável, em si, em uma taxa de 43,2%?

Note-se que, desses 16 ministros, apenas oito tinham esse status, sendo os restantes pessoas que ascenderam do segundo para o primeiro escalão. A rigor, marcariam um continuísmo menos extremado (se é isso que se cobra da presidente). Refazendo as contas: somente 21,6% dos ministros teriam a “cara de Lula”. O que, ao contrário, quer dizer que quase 80% não a têm tão nítida.

Para uma candidata cuja proposta básica era continuar as políticas e os programas do atual governo, que surpresa (ou desilusão) poderia existir nos tais 43,2%? Se, por exemplo, ela chamasse o dobro de ministros de Lula, seria errado?

Isso sem levar em consideração que Dilma não era, apenas, a representante abstrata da tese da continuidade, mas uma profissional que passou os últimos oito anos trabalhando com um grupo de pessoas. Imagina-se que tenha desenvolvido, para com muitas, laços de colaboração e amizade. Mantê-las em seus cargos ou promovê-las tem muito a ver com isso.

No plano regional, a acusação é quanto ao excesso de ministros de São Paulo, nove entre 37, o que justificaria dizer que teremos um “paulistério”, conforme essa mesma imprensa. Se, no entanto, fizéssemos aquela aritmética, veríamos que são 24,3% os ministros paulistas, para um estado que tem 22% da população, se for esse o critério para aferir excessos e faltas de ministros por estados e regiões.

Em sendo, teríamos, talvez, um peso desproporcionalmente positivo do Rio (com seis ministros nascidos no estado) e negativo de Minas (com apenas um). Há que lembrar, no entanto, que a coligação que elegeu a presidente fez o governador, os dois senadores e a maioria da bancada federal fluminense, o oposto do que aconteceu em Minas. O PMDB saiu alquebrado e o PT ainda mais dividido no estado, com uma única liderança com perspectiva sólida de futuro, o ex-prefeito Fernando Pimentel, que estará no ministério.

Para os mineiros, um consolo, não pequeno: a presidente Dilma nasceu em Belo Horizonte. Os ministros são poucos, mas a chefe é de Minas Gerais.

* Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

Paul Krugman: Os mortos-vivos erraram, mas continuam mandando

NYTimes.com

Quando os mortos-vivos vencem

By PAUL KRUGMAN

Quando historiadores olharem de volta no período 2008-10, o que mais vai intrigá-los, acredito, é o estranho triunfo de ideias falidas. Os fundamentalistas do mercado erraram sobre tudo — ainda assim eles dominam a cena política mais completamente que nunca. [Nota do Viomundo: Basta ver quantas vezes o Estadão já subiu os juros antes mesmo de Dilma Rousseff assumir o poder]

Como isso aconteceu? Como, depois que bancos descontrolados colocaram a economia de joelhos, acabamos com Ron Paul, que diz “não penso que precisamos de regulamentação”, assumindo um comitê-chave do Congresso que vigia o Banco Central? Como, depois das experiências dos governos Clinton e Bush — o primeiro aumentou impostos e presidiu sobre uma espetacular criação de empregos; o segundo cortou impostos e presidiu sobre um crescimento anêmico mesmo antes da crise –, acabamos com um acordo bipartidário para cortar os impostos ainda mais?

A resposta da direita é que os fracassos econômicos do governo Obama mostram que as políticas de “grande governo” não funcionam. Mas a resposta a eles deveria ser, que política de grande governo?

Pois o fato é que o estímulo econômico de Obama — que em si era quase 40% baseado em cortes de impostos — foi muito cauteloso para dar uma guinada na economia. E isso não é uma crítica feita em retrospectiva: muitos economistas, dentre os quais me incluo, alertaram desde o começo que o plano era grosseiramente inadequado. Coloquem assim: uma política sob a qual os empregos públicos foram reduzidos e na qual os gastos do governo em bens e serviços cresceram mais devagar que durante os anos Bush não contitui exatamente um teste de economia keynesiana.

Bem, talvez não tenha sido possível ao presidente Obama conseguir mais diante do ceticismo do Congresso em relação a seu governo. Mas mesmo que fosse verdade, apenas demonstra o contínuo controle de uma doutrina falida sobre nossa política.

Também vale a pena dizer que tudo o que a direita falou sobre os motivos do fracasso da Obamanomics estava errado. Por dois anos temos sido advertidos de que os empréstimos do governo fariam disparar os juros; na verdade, as taxas flutuaram com o otimismo ou pessimismo sobre a recuperação econômica, mas se mantiveram consistentemente baixas se comparadas a padrões históricos. Por dois anos fomos alertados de que a inflação e até mesmo a hiperinflação estava a caminho; em vez disso, a deflação continuou, com a inflação básica — que exclui a volatilidade dos preços de alimentos e energia — sendo a menor do último meio século.

Os fundamentalistas do livre mercado cometeram tantos erros sobre os Estados Unidos quanto sobre eventos no Exterior — e sofreram poucas consequências disso. “A Irlanda”, declarou George Osborne em 2006, “é um brilhante exemplo da arte do possível na formulação econômica de longo prazo”. Epa! Agora o sr. Osborne é a maior autoridade econômica britânica.

E nessa nova posição ele está copiando as políticas de austeridade implementadas pela Irlanda depois que a bolha local estourou. Aliás, conservadores dos dois lados do Atlântico passaram boa parte do ano passado saudando a austeridade irlandesa como um sucesso absoluto. “A política irlandesa funcionou em 1987-89 e está dando certo agora”, declarou Alan Reynolds do Cato Institute em junho passado. Epa!, de novo.

[Nota do Viomundo: Depois das "previsões" acima, vale dizer, a Irlanda faliu!]

Mas tais fracassos não parecem importar. Emprestando o título de um livro recente do economista australiano John Quiggin sobre doutrinas que a crise deveria ter matado mas não matou, estamos ainda — talvez mais que nunca — sendo governados pela “economia dos mortos-vivos”. Por que?

Parte da resposta, certamente, é que as pessoas que deveriam ter tentado matar as ideias mortas-vivas tentaram, em vez disso, fazer acordo com elas. E isso é especialmente verdadeiro do presidente [Obama], mas não apenas dele.

As pessoas tendem a esquecer que Ronald Reagan muitas vezes cedeu em questões políticas de substância — mais notadamente, ele aprovou múltiplos aumentos de impostos. Mas ele nunca foi mole com ideias, nunca recuou da postura de que sua posição ideológica estava correta e de que a dos adversários estava errada.

O presidente Obama, por contraste, tem consistentemente tentado fazer acordo com o outro lado, dando cobertura aos mitos da direita. Ele felicitou Reagan por restaurar o dinamismo dos Estados Unidos (quando foi a última vez que você ouviu um republicano elogiando Roosevelt?), adotou a retórica da oposição sobre a necessidade do governo de apertar o cinto mesmo diante da recessão e ofereceu congelamento simbólico de gastos e salários federais.

Nada disso fez com que a direita deixasse de denunciá-lo como socialista. Mas essa postura ajudou a dar poder a ideias ruins, de forma que elas podem causar danos imediatos. Neste momento o sr. Obama está saudando o acordo para corte de impostos [dos ricos] como uma forma de estimular a economia — mas os republicanos já estão falando em cortes de gastos do governo que acabariam com qualquer estímulo resultante do acordo. E como é que ele pode enfrentar os republicanos se ele mesmo abraçou a retórica de apertar o cinto?

Sim, política é a arte do possível. Todos entendemos a necessidade de fazer acordos com inimigos políticos. Mas uma coisa é fazer acordo para adiantar seus objetivos; outra é abrir as portas para as ideias dos mortos-vivos. Quando você faz esta concessão, os mortos-vivos acabam comendo o seu cérebro — e possivelmente também a sua economia.

PS do Viomundo: O mesmo acontece no Brasil com um grupo de petistas que assimilou o “jeito tucano de ser”. É fácil identificá-los: estão na fila de espera das páginas amarelas da Veja. Eu diria que essa turma sofre da síndrome de Estocolmo.

post do azenha

Homenagem ao melhor Presidente da história do Brasil!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Deputados paulistas aprovam “venda” de 25% dos leitos do SUS a convênios e particulares; paciente SUS é lesado

por Conceição Lemes

Por 55 a votos a 18 a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou ontem (21/12/2010), o projeto de lei 45/10 que permite às Organizações Sociais (OS) venderem até 25% dos serviços dos SUS, incluindo leitos hospitalares, a planos de saúde e particulares.

O projeto foi enviado à Assembleia Legislativa, em regime de urgência, pelo governador Alberto Goldman (PSBD). As bancadas do PSBD, DEM, PV, PPS, PSB, PTB e PP votaram a favor do projeto, que obteve ainda alguns votos do PMDB, PRB e PR. Votaram contra PT, PSOL, 1 do PR e 1 do PDT.

A nova lei das OS reduzirá mais o já precário atendimento hospitalar da população pobre”, denunciou ao Viomundo o deputado estadual Adriano Diogo (PT), da Comissão de Higiene e Saúde da Assembleia Legislativa. “É a expansão da ‘quarteirização’ dos serviços públicos de saúde no Estado de São Paulo.”

Para entender projeto, clique aqui. Paradescobrir como cada deputado estadual paulista votou, consulte a tabela abaixo. Os nomes em verde votaram a favor do projeto 45/10, do governador tucano. Os escritos em vermelho, contra.

Justiça condena O Globo por ofensa ao IPEA

Às vezes pegam o mentiroso


Saiu no Vermelho:

Justiça condena O Globo por ofensa rasteira contra o Ipea


O juiz Gustavo André Oliveira dos Santos, da 13ª Vara Federal (SJ/DF), condenou o jornal O Globo a conceder direito de resposta ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) contra matérias publicadas nos dias 22 e 24 de agosto deste ano, julgadas inverídicas e ofensivas à honra da instituição.

Nos textos em questão, intitulados “Uma máquina de alto custo” e “Especialistas criticam ingerência no Ipea”, o diário afirma que o instituto de pesquisa havia se transformado “numa máquina de propaganda do governo e braço de articulação política externa movida pela ideologia, deixando em segunda mão sua missão primordial”.


Liberdade de imprensa


Em sua sentença, o juiz faz um arrazoado em defesa da liberdade de imprensa e em particular das críticas bem fundamentadas a instituições do Estado. “Pontuo, também, ser indiscutível que a imprensa possui liberdade de criticar a atuação dos órgãos públicos, informando à sociedade das deficiências, possíveis problemas e desvirtuamentos da Administração pública em geral, denúncias essas que contribuem para o desenvolvimento do Estado Democrático de Direito”.


Todavia, a liberdade de imprensa não é um direito absoluto e não pode atropelar os demais direitos fundamentais, como a honra. Não deve servir de escudo à manipulação ideológica dos fatos. “A partir do momento que a crítica transmuda-se em ofensa descontextualizada de fatos certos [o que ficou caracterizado na conduta de O Globo], permitido é ao ofendido se socorrer do Poder Judiciário para obter resposta proporcional”, julga Oliveira dos Santos.


A acusação formulada pelo jornal contra o Ipea, ou seja, de ter se transformado uma máquina de propaganda do governo movida a ideologia, não tem fundamentos nos fatos, segundo a Justiça, que também apontou as contradições e incoerências do próprio O Globo quando divulga com objetividade (ainda que por interesse próprio) as atividades do instituto. Neste caso, o próprio pasquim dos Marinho se desmente e mostra “que o Ipea vem realizando um trabalho científico imparcial”, conforme a conclusão do juiz. A hipocrisia global salta aos olhos.


Contradições e incoerências


“Ademais”, diz na sentença, “o Ipea juntou diversas outras notícias/reportagens publicadas no O Globo que demonstram a contradição com as reportagens atacadas, no ponto em que aduzem estar o Ipea a serviço de interesses políticos determinados. Confira-se: A) Manchete: “Principais aeroportos não conseguem atender à demanda, diz Ipea” (Publicada em 31/05/2010); B) Manchete: “Falta de investimento na juventude brasileira preocupa” (Publicada em 19/01/2010 às 18h26m. Em tal reportagem, fora registrado que: “O livro Juventude e políticas sociais no Brasil” lançado nesta terça-feria pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) revela que é preocupante a falta de investimento na juventude brasileira; C) Manchete: “Ferrovias brasileiras precisam de investimentos de R$40 bi, diz estudo do Ipea” (Publicada em 19/05/2010 às 17h39m – fls. 35); D) Manchete: “Estudo do Ipea mostra que país corre risco de apagão logístico por falta de investimento em portos” (Publicada no dia 17/05/2010). Todas essas publicações, também recentes, demonstram, por evidência, que o Ipea vem realizando um trabalho científico imparcial, pois os estudos, pela simples leitura das manchetes, em nada favorecem o governo federal.”


Fica evidente que a acusação feita contra o Ipea pelo jornal não tem base na realidade e possui notórias motivações ideológicas.


Viúvas do neoliberalismo


Arvorando-se em dono da verdade, O Globo acusa o Ipea de ser movido “pela ideologia”. Mas é este próprio meio de comunicação que produziu uma peça ideológica rancorosa e de duvidosa qualidade conta o instituto. A diferença é que, no caso, o veículo destila uma ideologia reacionária, de direita, a ideologia da mentira, da manipulação, da hipocrisia.


O jornal da família Marinho é inspirado pelo ódio ao caráter progressista que o economista Marcio Pochmann imprimiu às pesquisas e estudos desenvolvidos pela equipe da Ipea, subtraindo-o à influência do chamado Consenso de Washington, aproximando-o dos movimentos sociais e conferindo-lhe uma orientação desenvolvimentista. O Ipea já não é o mesmo da era neoliberal tucana. Daí o ódio das viúvas do neoliberalismo e a tentativa de desmoralizar a instituição.


Anticomunismo


As referências preconceituosas nas duas matérias ao relacionamento do Ipea com a Venezuela, palco de uma revolução socialista, e Cuba, citadas na sentença, são sinais do anticomunismo atávico subjacente à ideologia que move o padrão globo de jornalismo. Assim como se vale do artifício de “citar os dois lados” para fingir imparcialidade e esconder os interesses escusos que embasam suas opiniões, O Globo se serve do pretexto da liberdade de imprensa para produzir matérias tendenciosas e difundir uma falsa ideologia.


Segundo o juiz, “o direito de resposta surge para o ente público quando a crítica, qualificada como ofensa, atinge a honra objetiva do órgão mediante a publicação de texto sem embasamento fático”. Daí conclui: “Pelo exposto, com fulcro no art. 269, I, do CPC, JULGO PROCEDENTE o pedido para o fim de determinar que o réu proceda a publicação da RESPOSTA do requerente, conforme texto de fls. 89/90, na sua edição de domingo, na primeira página (chamada) e no caderno “O País” no quadro “ELEIÇÕES 2010”, bem como na sua edição de terça-feira no caderno “O País”. O réu também foi condenado a pagar honorários advocatícios.


Da redação,

Umberto Martins

Conto de Natal – Maria e José na Palestina em 2010





por James Petras

Os tempos eram duros para José e Maria. A bolha imobiliária explodira. O desemprego aumentava entre trabalhadores da construção civil. Não havia trabalho, nem mesmo para um carpinteiro qualificado. Os colonatos ainda estavam a ser construídos, financiados principalmente pelo dinheiro judeu da América, contribuições de especuladores de Wall Street e donos de antros de jogo.

"Bem", pensou José, "temos algumas ovelhas e oliveiras e Maria cria galinhas". Mas José preocupava-se, "queijo e azeitonas não chegam para alimentar um rapaz em crescimento. Maria vai dar à luz o nosso filho um dia destes". Os seus sonhos profetizavam um rapaz robusto a trabalhar ao seu lado… multiplicando pães e peixes.

Os colonos desprezavam José. Este raramente ia à sinagoga, e nas festividades chegava tarde para fugir à dízima. A sua modesta casa estava situada numa ravina próxima, com água duma ribeira que corria o ano inteiro. Era mesmo um local de eleição para a expansão dos colonatos. Por isso quando José se atrasou no pagamento do imposto predial, os colonos apropriaram-se da casa dele, despejaram José e Maria à força e ofereceram-lhes bilhetes só de ida para Jerusalém.

José, nascido e criado naquelas colinas áridas, resistiu e feriu uns tantos colonos com os seus punhos calejados pelo trabalho. Mas acabou abatido sobre a sua cama nupcial, debaixo da oliveira, num desespero total.

Maria, muito mais nova, sentia os movimentos do bebê. A sua hora estava a chegar.

"Temos que encontrar um abrigo, José, temos que sair daqui… não há tempo para vinganças", implorou.

José, que acreditava no "olho por olho" dos profetas do Antigo Testamento, concordou contrariado.

E foi assim que José vendeu as ovelhas, as galinhas e outros pertences a um vizinho árabe e comprou um burro e uma carroça. Carregou o colchão, algumas roupas, queijo, azeitonas e ovos e partiram para a Cidade Santa.

O trilho era pedregoso e cheio de buracos. Maria encolhia-se em cada sacudidela; receava que o bebê se ressentisse. Pior, estavam na estrada para os palestinos, com postos de controlo militares por toda a parte. Ninguém tinha avisado José que, enquanto judeu, podia ter-se metido por uma estrada lisa pavimentada – proibida aos árabes.

Na primeira barragem José viu uma longa fila de árabes à espera. Apontando para a mulher muito grávida, José perguntou aos palestinos, meio em árabe, meio em hebreu, se podiam continuar. Abriram uma clareira e o casal avançou.

Um jovem soldado apontou a espingarda e disse a Maria e a José para se apearem da carroça. José desceu e apontou para a barriga da mulher. O soldado deu meia volta e virou-se para os seus camaradas. "Este árabe velho engravida a rapariga que comprou por meia dúzia de ovelhas e agora quer passar".

José, vermelho de raiva, gritou num hebreu grosseiro, "Eu sou judeu. Mas ao contrário de vocês… respeito às mulheres grávidas".

O soldado empurrou José com a espingarda e mandou-o recuar: "És pior do que um árabe – és um velho judeu que violas raparigas árabes".

Maria, assustada com o caminho que as coisas estavam a tomar, virou-se para o marido e gritou, "Pára, José, ou ele dispara e o nosso bebê vai nascer órfão".

Com grande dificuldade, Maria desceu da carroça. Apareceu um oficial do posto da guarda, a chamar por uma colega, "Oh Judi, apalpa-a por baixo do vestido, ela pode ter bombas escondidas".

"Que se passa? Já não gostas de ser tu a apalpá-las?" respondeu Judith num hebreu com sotaque de Brooklyn. Enquanto os soldados discutiam, Maria apoiou-se no ombro de José. Por fim, os soldados chegaram a um acordo.

"Levanta o vestido e o que tens por baixo", ordenou Judith. Maria ficou branca de vergonha. José olhava para a espingarda desmoralizado. Os soldados riam-se e apontavam para os peitos inchados de Maria, gracejando sobre um terrorista ainda não nascido com mãos árabes e cérebro judeu.

José e Maria continuaram a caminho da Cidade Santa. Foram freqüentes vezes detidos nos postos de controlo durante a caminhada. Sofriam sempre mais um atraso, mais indignidades e mais insultos gratuitos proferidos por sefarditas e asquenazes, homens e mulheres, leigos e religiosos – todos soldados do povo Eleito.

Já era quase noite quando Maria e José chegaram finalmente ao Muro. Os portões já estavam fechados. Maria chorava em pânico, "José, sinto que o bebê está a chegar. Por favor, arranja qualquer coisa depressa".

José entrou em pânico. Viu as luzes duma pequena aldeia ali ao pé e, deixando Maria na carroça, correu para a casa mais próxima e bateu à porta com força. Uma mulher palestina entreabriu a porta e espreitou para a cara escura e agitada de José. "Quem és tu? O que é que queres?"

"Sou José, carpinteiro das colinas do Hebron. A minha mulher está quase a dar à luz e preciso de um abrigo para proteger Maria e o bebê". Apontando para Maria na carroça do burro, José implorava na sua estranha mistura de hebreu e árabe.

"Bem, falas como um judeu mas pareces mesmo um árabe", disse a mulher palestina a rir enquanto o acompanhava até a carroça.

A cara de Maria estava contorcida de dores e de medo; as contrações estavam a ser mais freqüentes e intensas.

A mulher disse a José que levasse a carroça de volta para um estábulo onde se guardavam as ovelhas e as galinhas. Logo que entraram, Maria gritou de dor e a palestina, a que entretanto se juntara uma parteira vizinha, ajudou rapidamente a jovem mãe a deitar-se numa cama de palha.

E assim nasceu a criança, enquanto José assistia cheio de temor.

Aconteceu que passavam por ali alguns pastores, que regressavam do campo, e ouviram uma mistura de choro de bebê e de gritos de alegria e se apressaram a ir até ao estábulo levando as suas espingardas e leite fresco de cabra, sem saber se iam encontrar amigos ou inimigos, judeus ou árabes. Quando entraram no estábulo e depararam com a mãe e o menino, puseram de lado as armas e ofereceram o leite a Maria que lhes agradeceu tanto em hebreu como em árabe.

E os pastores ficaram estupefatos e pensaram: Quem seria aquela gente estranha, um pobre casal judeu, que chegara em paz com uma carroça com inscrições árabes?

As novas espalharam-se rapidamente sobre o estranho nascimento duma criança judia mesmo junto ao Muro, num estábulo palestino. Apareceram muitos vizinhos que contemplavam Maria, o menino e José.

Entretanto, soldados israelenses, equipados com óculos de visão noturna, reportaram das suas torres de vigia que cobriam a vizinhança palestina: "Os árabes estão a reunir-se mesmo junto ao Muro, num estábulo, à luz das velas".

Abriram-se os portões por baixo das torres de vigia e de lá saíram caminhões blindados com luzes brilhantes, seguidos por soldados armados até aos dentes que cercaram o estábulo, os aldeões reunidos e a casa da mulher palestina. Um altofalante disparou, "Saiam cá para fora com as mãos no ar ou disparamos". Saíram todos do estábulo, juntamente com José, que deu um passo em frente de braços virados para o céu e falou, "A minha mulher Maria não pode obedecer às vossas ordens. Está a amamentar o menino Jesus".

O original encontra-se em http://petras.lahaine.org/articulo.php?p=1831&more=1&c=1. Tradução de Margarida Ferreira.

WikiLeaks revela plano de ataque da Otan contra Rússia





Um dos telegramas é assinado pela chefe do Departamento de Estado dos EUA, Hillary Clinton. “O Plano é secreto”, enfatizou Hillary aos astutos diplomatas dos EUA na Otan

Luiz Britto Garcia

De Caracas

O jornal inglês The Guardian estampou no dia 7 mais um telegrama reproduzido pelo site WikiLeaks, desta vez um plano da Otan de ataque massivo à Rússia. O plano de guerra em larga escala contra os russos prevê o deslocamento de nove divisões militares dos EUA, Inglaterra, Alemanha e Polônia.

Segundo o Guardian, o ataque prevê, inclusive os portos da Alemanha e da Polônia a serem utilizados para receber as unidades navais de assalto vindas dos EUA e da Inglaterra.

Membros do governo russo protestaram contra o plano – assim que o mesmo foi revelado através das publicações de telegramas entre embaixadas e governo dos EUA, pelo WikiLeaks.

“Temos que receber garantias de que tais planos vão ser cancelados e de que a Otan não considera a Rússia um país inimigo”, afirmou o enviado da Rússia ao último encontro da Otan, realizado em Lisboa.

Um dos telegramas é assinado pela própria chefe do Departamento de Estado dos EUA, Hillary Clinton, datado de 26 de janeiro, aos diplomatas americanos na Otan. Ela enfatiza que o plano tem que ser mantido em estrito segredo. “Os Estados Unidos acreditam fortemente que este plano não deve ser discutido em público. São classificados como de “nível secreto da Otan”, diz o telegrama.

“A discussão pública de planos de contingência minam o seu valor militar”, acrescenta, “permitindo que se exponha os processos de planejamento da Otan. Isto enfraquece a todos os aliados”.

Hillary também orienta os diplomatas americanos a mentirem para a imprensa, no caso de vazamento de informações. Sugere respostas evasivas tais como: “A Otan não discute planos específicos”. Os agentes são instruídos a dizer também que “os planejamentos da Otan, não são direcionados a qualquer país”.

O representante russo Rogozin questionou especificamente este ultimo trecho do telegrama de Hillary. “A quem mais este plano militar seria direcionado? Contra a Suécia, Finlândia, Groen-lândia, Islândia, contra os ursos polares ou contra o urso russo?”, ironizou. Um membro do Ministério do Exterior, que pediu anonimato ao Guardian, foi mais direto dizendo que “este e outros documentos provocaram atordoamento e muitas questões”.

Além disso, o Guardian destaca sua estupefação de que nos telegramas os diplomatas ianques tratem o assunto com total leviandade pois “não há uma só menção ou preocupação sobre as implicações potencialmente catastróficas de tal choque armado entre as duas maiores potências nucleares do mundo”.

O pretexto para o plano de ataque é de defender os novos integrantes bálticos da Otan, que por acaso cercam a Rússia. A saber Letônia, Lituânia e Eslovênia. Para isso os telegramas sugerem “expandir o plano que já existe de defesa da Polônia”. Acontece que os russos não projetaram nenhum cinturão de mísseis especificamente direcionados contra o solo e o ar da Polônia ou quaisquer outros países, mas construíram suas próprias defesas, ao contrário do que fizeram os EUA com o “escudo de mísseis” projetados pelo governo Bush.

Em um telegrama datado de outubro de 2009 o embaixador dos EUA na Otan, Ivo Dalder, afirma que tanto Hillary quanto Obama expressaram seu apoio ao desenvolvimento do plano militar contra a Rússia.

Daalder sugere, para não deixar claro que a Rússia é um alvo potencial, a adoção de um “plano genérico” de deslocamento de tropas para os países bálticos sem mencionar no mesmo contra quem estas tropas estariam direcionadas para assim – em caso de vazamento – não provocar constrangimentos com Moscou. Como bem desconfiou o russo Rogozin: “se vamos caçar coelho, por que vocês estão com armas para matar urso?”

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Governador paulista quer “vender” 25% dos leitos hospitalares do SUS

por Conceição Lemes

A saúde pública no Estado de São Paulo está sendo privatizada a passos largos, em larga escala.

Na última quinta-feira, o governador Alberto Goldman (PSDB) tinha certeza de que acrescentaria novo capítulo a essa história: aprovar na Assembleia Legislativa o projeto de lei 45/10, que altera a lei das Organizações Sociais (OS), de 1998, permitindo que vendam a planos de saúde e clientes particulares até 25% dos leitos hospitalares (entre outros serviços) do Sistema Único de Saúde (SUS).

“A nova lei das OS reduzirá mais o já precário atendimento hospitalar da população pobre”, denuncia ao Viomundo o deputado estadual Adriano Diogo (PT), da Comissão de Higiene e Saúde da Assembleia Legislativa. “É a expansão da ‘quarteirização’ dos serviços públicos de saúde no Estado de São Paulo.”

A tentativa da quinta-feira fracassou. Além de aproximadamente 40% dos deputados não terem conseguido a reeleição (e estão faltando às sessões), o tema é impopular.

Resultado: na primeira votação, obteve apenas 35 votos favoráveis. Como é um projeto de lei complementar, necessita de 48 votos para aprovação. Hoje haverá nova votação. O projeto foi encaminhado pelo governador paulista à Assembleia Legislativa, em 1º de dezembro, em regime de urgência.

PROJETO 45/10: DUPLA PORTA E MAIS RECURSOS PARA OS DA SAÚDE

Teoricamente as OS são entidades filantrópicas. Só que, na prática, funcionam como empresas privadas, pois o contrato é por prestação de serviços.

A lei de OS, de 1998, estabelecia que apenas os novos hospitais públicos do estado de São Paulo poderiam passar para a administração das OS. Porém, uma lei de 2009, do então governador José Serra (PSDB), derrubou essa ressalva. Ela permite transferir às OS o gerenciamento de todos os hospitais públicos do estado. É o caminho para a terceirização completa.

Agora, o novo projeto do governador Alberto Goldman tenta avançar sobre os serviços desses hospitais públicos privatizados. Ele quer é que esses serviços não sejam destinados exclusivamente aos pacientes SUS. O projeto permite as OS venderem até 25% dos seus serviços aos planos de saúde e particulares. É o aprofundamento da “quarteirização”, uma vez que atualmente as OS (que são as terceirizadas) já contratam hoje em dia alguns serviços.

Na prática, o projeto 45/10 institucionaliza a dupla porta, de iniciada no sistema público de São Paulo e hoje disseminada por muitos estados, considerada por vários especialistas uma ilegalidade.

Pela “porta 1”, entram os usuários do SUS. Pela “porta 2”, apenas os conveniados e particulares. O argumento dos defensores da dupla-porta é que o pagamento dos serviços ajudaria a pagar a conta dos doentes do SUS.

A questão é que, nas mesmas instituições públicas, pacientes SUS têm diagnóstico e tratamento mais tardios do que conveniados ou particulares para males idênticos. E aí está x do problema, até porque esses hospitais foram construídos com recursos do SUS.

Tem mais. Na prática, o projeto do governador paulista cria uma nova fonte de financiamento para as OS. Ele prevê que o dinheiro arrecadado com a prestação desses serviços seja repassado diretamente às OS e não ao poder público, que as financia como manda a lei. Além de o Estado não ter ressarcimento, o recurso não será contabilizado na receita e na despesa pública, criando uma ilegalidade. Afinal, a Lei Estadual 9.058/94 já prevê que haja o ressarcimento para o Estado do gasto de usuários de planos de saúde se forem utilizados equipamentos públicos. Também as normas fixadas pela Lei Federal 9.656/ 1998 já prevêem o ressarcimento para o poder público.

E quem controla isso? Que garantia o Estado tem de que serão “vendidos” 25% e não 30% ou 40%, por exemplo? O próprio Tribunal de Contas do Estado de São Paulo reconhece que é difícil esse controle.

HOSPITAIS ADMINISTRADOS POR OS CUSTAM 50% MAIS

Por que então o governador quer aprovar o projeto de lei 45/10, autorizando o uso de até 25% dos leitos da rede estadual por convênios e particulares?

A explicação é simples. O custo do gerenciamento dos hospitais públicos pelas OS é alto, ao contrário do que alardeiam os defensores desse sistema de administração.

O cruzamento de dados dos relatórios das OS com informações do Sistema de Gerenciamento da Execução Orçamentária do Estado de São Paulo (SIGEO) comprova isso. Em 2008, os 13 hospitais públicos geridos na ocasião por OS receberam R$ 872 milhões. Um gasto médio, portanto, de R$ 67 milhões. Já os 33 hospitais administrados diretamente pelo Estado gastaram R$ 1,49 bilhão. Um gasto médio de R$ 45,4 milhões.

Resultado: em 2008, os hospitais geridos pelas OS custaram, em média, 50% mais do que os hospitais públicos geridos diretamente pelo poder público.

Em 2009, isso repete. Os hospitais públicos geridos por OS receberam R$ 1,35 bilhão. Um gasto médio de R$ 71 milhões. Já os hospitais administrados pelo Estado gastaram R$ 1,64 bilhão. Um gasto médio de R$ 48,2 milhões. Ou seja, o gasto médio com os hospitais geridos pelas OS ficou 47% mais caro.

A mesma tendência em 2010. Ainda com dados provisórios, os hospitais geridos por OS receberam R$ 1,6 bilhão. Isso representa um custo médio de R$ 76,3 milhões. Já os hospitais geridos pelo Estado gastaram até o momento, a quantia de R$ 1,45 bilhão, representando um custo médio anual de R$ 42,8 milhões.

Outro dado revelador. De 2006 a 2009, os gastos com as OS na Saúde saltaram de R$ 910 milhões para R$ 1,96 bilhão. Um pulo de 114%. No mesmo período, o orçamento do Estado cresceu 47%. Ou seja, as despesas do Estado de São Paulo com a terceirização da saúde cresceram mais que o dobro do aumento do orçamento público.

Só que a sociedade não têm acesso a esses dados. O próprio Tribunal de Contas do Estado de São Paulo reconhece, insistimos, que o controle social sobre os gastos das OS é muito baixo.

ENTIDADES DE SAÚDE SÃO CONTRA

“Na verdade, a terceirização dos serviços de saúde, via OS, é uma forma de driblar a Lei de Responsabilidade Fiscal quanto ao gasto com pessoal”, faz outra denuncia ao Viomundo o deputado Adriano Diogo. “Enquanto ao poder público só é permitido gastar, no máximo, permite 46,5% da sua receita corrente líquida com pessoal, nas OS não há limite. Algumas gastam 70% com pessoal. Monta-se, assim, um sistema de contratação indireta de pessoal, sem nenhum limite. E o que é pior. Sem qualquer controle social.”

Não à toa as entidades de saúde são contrárias ao projeto de lei 45/10. Confira.

Maria do Carmo Cabral Carpintero, presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo: Há um equívoco básico no projeto: não podemos tratar uma patologia com um remédio fatal. Faltam recursos no sistema de Saúde, mas não iremos resolver o problema, diferenciando os pacientes que não têm convênio. Eles não podem ser tratados como cidadãos de segunda categoria. Isso fere o princípio da equidade, estabelecido pelo SUS.

Renato Azevedo Júnior, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp): Faltam leitos na rede pública. Não podemos vendê-los. Embora a dupla porta não esteja prevista na lei, sabemos que na prática haverá duas filas para o atendimento nos hospitais públicos: dos pacientes do SUS e dos que têm plano de saúde. A solução para o setor está em aumentar os investimentos e melhorar a gestão do sistema público.

Rogério Giannini, presidente do Sindicato dos Psicólogos (SinPsi): Falta fiscalização na gestão das Organizações Sociais e o projeto vai estabelecer mesmo a dupla porta, uma entradinha para o SUS e outro para os convênios médicos. É uma proposta que vai causar fragilização do Sistema Único de Saúde.

Moacir Miniussi Bertolino Neto, representante do Conselho Regional de Psicologia: Estão privatizando o SUS em São Paulo. O projeto é inconstitucional, beneficia apenas empresários e instituições financeiras e vai aumentar ainda mais a espera por exames e procedimentos.

Benedito Augusto de Oliveira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde (SindSaúde): Não há como regulamentar essa separação de leitos ou dizer a uma pessoa doente que ela ficou além da cota prevista pelo projeto. Isso é um crime. A proposta de privatização dos leitos antes que Alckmin assuma o Governo demonstra o interesse econômico e político do projeto.

Maria Ademilda Mastelar, do Conselho Estadual de Saúde (representante dos usuários): Faltam vagas para os pacientes do SUS em São Paulo, seja para internação ou exames. Não dá para pensar em qualquer proposta que possa reduzir ainda mais a oferta.

QUEM VOTOU CONTRA E A FAVOR DO PROJETO DE LEI 45/10

Os nomes em verde votaram a favor do projeto 45/10, do governador tucano. Os escritos em vermelho, contra.

Descubra como o seu deputado estadual. Após a votação de hoje, publicaremos a lista atualizada.

Se a Dilma não controlar a PF e a SSI armam uma cama de gato para ela

Dr. Corrêa, o guardião de uma polícia republicana


Saiu na Folha de sábado:

Polícia Federal é investigada por compra de aparelhos


MATHEUS LEITÃO

DE BRASÍLIA


O Ministério Público Federal em Santa Catarina abriu investigação contra a empresa de segurança Dígitro e a Polícia Federal por suspeita de irregularidades na compra de aparelhos de escuta.


A investigação recai sobre a compra de 36 plataformas Guardião, que registram áudios de ligações interceptadas, montam redes de relacionamento de investigados e transcrevem gravações.


(…)

Clique aqui para ler a matéria na íntegra.

Navalha

Não bastasse a compra de equipamento para o Guardião, o Diretor Geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, abrilhanta o currículo com alguns exemplares episódios.

Até hoje, ele não descobriu o áudio do grampo.

Aquele grampo que levou o ex-Supremo Presidente Supremo do Supremo, Gilmar Dantas (*), a chamar o Presidente Lula às falas e a defenestrar o ínclito delegado Paulo Lacerda.

O Dr. Corrêa negligenciou a descoberta do áudio do grampo para dedicar-se a perseguir o ínclito delegado Protógenes Queiroz, que, por duas vezes, prendeu o passador de bola apanhado no ato de passar bola, Daniel Dantas.

O controle da direção da Polícia Federal é tão importante quanto nomear o Ministro da Fazenda e o Presidente do Banco Central.

Quando o Dr. Tancredo convidou o sábio Fernando Lyra para Ministro da Justiça, comunicou, de forma categórica, quem tinha escolhido para Diretor Geral da Polícia Federal.

Pergunte ao Napoleão o que seria dele sem o Fouchet.

A Secretaria de Segurança Institucional é a antiga a ABIN.

A função da SSI é proteger as instituições e, num regime presidencial, a prioridade é proteger a Presidência.

Se a SSI funcionasse, o Presidente Lula teria sido advertido das atividades do Valdomiro, do Marcos Valério, do Mensalão e da família da Ministra Erenice.

A SSI é para tirar o pino da granada que inimigos e aliados jogam no Palácio.

Controlar a Polícia Federal e a SSI é medida preliminar de qualquer Presidente que preze 8 horas de sono.

A Polícia Federal, na mão do Cerra ou de um especialista em fogo amigo, derruba o Presidente da República.

Fogo amigo é o que não falta no Ministério que se anuncia.

Armar uma cama de gato vira até brincadeira de criança.

Essas inúteis observações nasceram de uma conversa com um especialista em observar a construção de camas de gato.




Paulo Henrique Amorim

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Carter enaltece diplomacia de Lula. O PiG (*) discorda

Carter celebrou o acordo entre o Egito e Israel


Jimmy Carter é tudo o que Fernando Henrique jamais será: um bom ex-presidente.

Quando deixou a presidência dos EUA, em 1981, assumiu o papel de negociador da paz, juiz de eleições em democracias novas e obras de benemerência.

O Carter Center na cidade de Atlanta, na Georgia, tornou-se um ponto de referência dos que buscam a paz e defendem os direitos humanos.

O Instituto Fernando Henrique Cardoso, como se sabe, é um centro de peregrinação para o culto à personalidade do Farol de Alexandria.

Carter foi o primeiro líder político americano a defender, ao mesmo tempo, a criação do Estado da Palestina e o fim da ocupação de Israel.

Hoje, depois de perceber que o governo americano jamais contrariará Israel, Carter defende uma solução na ONU, com a pressão de muitos países sobre a diplomacia americana e israelense.

Hoje, na página A20 da Folha (**), Carter diz “Brasil pode ser um dos líderes do processo de paz no Oriente Médio”.

Ele não só defende a decisão do Governo Lula de reconhecer as fronteiras do Estado Palestino, como considera que o Brasil pode ser um dos líderes desse processo.

E por que ?

Porque o Brasil tem muita influência nos países em desenvolvimento.

E porque o Brasil tem muita influência com os EUA, também.

Ah, como esse PiG (*) é provinciano !

Ah, como a “política externa” da campanha do Padim Pade Cerra era ridícula !

O PiG (*) e o Cerra cabem dentro de uma casca de amendoim que o Carter cultiva no campo da Georgia.


Paulo Henrique Amorim

Lula defende diálogo com Irã e critica "tutela da paz" dos EUA



O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta segunda-feira (20) que não haverá paz no Oriente Médio enquanto os Estados Unidos atuarem como “tutor” na região. Ele defendeu a política externa brasileira e a maior participação de outros países na negociação. Lula participou nesta tarde em Brasília de uma cerimônia de apresentação de generais recém promovidos nas Forças Armadas.

"Não haverá paz no Oriente Médio enquanto os Estados Unidos forem tutor da paz. É preciso envolver outros países para negociar. Não é questão dos Estados Unidos, mas é de saber quem pode conversar", afirmou o presidente. Atualmente, os EUA tentam mediar um acordo entre Israel e palestinos que até agora não surtiu nenhum efeito. “É preciso distensionar a mesa de negociação”, comentou o presidente.

Lula defendeu a política externa brasileira e a relação com o Irã. Ele destacou que dez dias antes de viajar para o Irã recebeu uma carta do presidente norte-americano Barack Obama com “condições” sobre o programa nuclear iraniano.

Segundo Lula, todas as condições foram aceitas pelo presidente Mahmoud Ahamadinejad. Mesmo assim, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aplicou sanções àquele país. “As condições aceitas pelo Armadinejad eram exatamente as mesmas propostas pelo Obama. Mesmo assim, os países do Conselho de Segurança da ONU resolveram punir o Irã”, disse Lula.

Na visão de Lula, as sanções ocorreram porque a negociação foi conduzida por Brasil e Turquia e não pelos países do Conselho de Segurança. “A única explicação é de que era preciso punir o Irã porque o Brasil e a Turquia tinham se metido em seara de país desenvolvido”, comentou.

Para ele, o Conselho de Segurança da ONU não pode ser “um clube de amigos”, mas sim uma “instituição ativa”, da qual façam parte outros países. Lula tem defendido um papel mais atuante do Brasil no processo de pacificação do Oriente Médio. Em maio, visitou o Irã para tentar mediar um acordo em relação ao programa nuclear da República Islâmica.

Sem pedir licença

O presidente rebateu ainda as críticas que recebeu pela relação com o Irã. Segundo Lula, as pessoas que recomendaram que o Brasil não se “metesse” no tema preferiam ser tratadas de forma “subalterna” e “inferior”. “O Brasil não tem de pedir licença para fazer o que acredita que tem de ser feito”, disse.

Lula contou ainda que, uma vez, no primeiro ano de mandato, em um evento na França com vários líderes internacionais, quando o então presidente norte-americano, George W. Bush, chegou, todos se levantaram, uma deferência que não tinha sido feita a nenhum outro líder. "Eu segurei no Celso Amorim (ministro das Relações Exteriores) e disse: ninguém levantou quando a gente chegou, por que vamos levantar agora? Então o Bush veio e sentou conosco".

Para Lula, a história mostra que a "subserviência não leva a lugar nenhum". "O ser humano não gosta de lambe-botas, gosta de quem quer ser tratado com igualdade".

Lula também disse que, há poucos dias de deixar o governo, encontra o povo brasileiro com uma autoestima nunca antes vista. E falou sobre as grandes obras que deixará, como a das hidrelétricas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. “As três maiores do mundo”, disse Lula. E citou também as obras em ferrovias.

Outro projeto destacado por Lula foi a transposição do Rio São Francisco. “Levaremos água para o maior semiárido habitado do planeta Terra”. E brincou com as críticas que recebeu no início do mandato quando resolveu adquirir um avião novo para as viagens presidenciais. “Quando compramos o avião, vocês sabem o que passamos. Comprei o avião para não passar vergonha. Disseram que o avião era meu. Chamaram de aerolula. Agora, vai ser o aerodilma”, comentou.

O presidente destacou as ações do governo na área do ministério da Defesa, como o auxílio das tropas nas operações em morros do Rio de Janeiro e a atuação dos militares no Haiti. Lula terminou a fala agradecendo o tratamento “respeitoso” e “leal” que teve das Forças Armadas.
post do vermelho

domingo, 19 de dezembro de 2010

Retirante já era!!

O crescimento acima da média nacional amplia o horizonte e reativa a esperança dos nordestinos. Por Gerson Freitas Jr. Foto: Leo Caldas

O crescimento acima da média nacional amplia o horizonte e reativa a esperança dos nordestinos

Marinalva sobral está de malas prontas. Às 7 da manhã de 14 de janeiro próximo, a diarista embarca no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, para o Recife. Deixa para trás uma história de 17 anos na capital paulista rumo a uma nova vida em Lagoa dos Gatos, município de 15 mil habitantes no Agreste pernambucano.

Nalva, como é chamada pelos amigos, migrou de Pernambuco para São Paulo em 1993, aos 17 anos. Mãe aos 15, deixou a terra natal a contragosto, para acompanhar o pai de sua filha na busca por emprego. “Era uma época difícil. A única opção para quem ficasse era trabalhar na roça”, lembra.

O casamento não deu certo e Nalva se separou apenas três meses depois de chegar a São Paulo. Arrumou emprego e abrigo numa “casa de família”, onde trabalhou como diarista por dois anos. De lá foi morar com a filha Paula numa casa de dois cômodos, um “quarto e cozinha”, na região do Cambuci, na zona sul de São Paulo. “Naquele momento era eu e eu.”

Nalva teve mais dois filhos, Fransuelen, hoje com 14 anos, e Pedro, com 8. Passou sozinha por dificuldades severas, e sempre alimentou a esperança de retornar a Lagoa dos Gatos. “Sempre quis voltar, mas não tinha o que fazer lá e também não queria depender de ninguém.”

Seu desejo cresceu nos últimos três anos, depois que sua mãe morreu. “Queria cuidar do meu pai, que está doente.” Seu Antônio, 63 anos, sofre com diabetes e pressão alta. Faltava apenas um meio de sobreviver com dignidade longe da metrópole.
A história começou a mudar há quase dois anos, quando uma ex-patroa comunicou-lhe que se mudaria para a cidade de Americana, interior de São Paulo. “Ela decidiu que ia me pagar um curso para que não ficasse na mão.” Nalva então se matriculou numa escola de cabeleireiros e aprendeu o ofício.

Munida das novas habilidades, decidiu que era hora de realizar seu sonho: voltar à sua terra com os dois filhos mais novos – Paula, a mais velha, acaba de se casar –, abrir um salão de beleza e cuidar do pai. Na bagagem, carrega a esperança de uma vida melhor. “Vou morar numa casa com sala, cozinha, dois quartos grandes e quintal, que meu pai comprou para mim, e tudo o que ganhar vai ser meu.”

Dos confortos da cidade grande, acredita, não vai sentir falta. “As coisas mudaram muito. Hoje tem tudo lá. Todos têm internet, celular. E as escolas são melhores. Além do mais, aqui só trabalho. Não tenho tempo de aproveitar nada.”
Como Marinalva, cada vez mais nordestinos que se retiraram para o Sudeste em busca de uma oportunidade decidem fazer o caminho de volta. Não que já tenham “cumprido sua missão” e agora busquem uma aposentadoria tranquila. Atraídos pelo bom desempenho da economia, vislumbram pela primeira vez a chance de ter uma vida digna, construir uma carreira e até ficar ricos numa região que, para muita gente, ainda é sinônimo de pobreza, atraso e assistencialismo.

É a história de Valdemir Martins, pernambucano nascido na litorânea São José da Coroa Grande, perto da divisa com Alagoas. Personagem carismático, Valdemir conta a própria trajetória como quem narra um romance. Gestos largos, sorri quando fala dos 11 irmãos – “nordestino não brincava em serviço naquela época” – e logo embarga a voz: “Nosso pai nos criou com muito sofrimento…sofrimento! essa é a palavra”.

Ainda menor de idade, aos 17 anos, decidiu seguir o exemplo dos três irmãos mais velhos e tomar um ônibus rumo a São Paulo, a fim de “tentar a vida”. “Minha vontade era permanecer em Pernambuco, minha terra. Mas, se ficasse, teria o mesmo destino que meus colegas de infância, depender da pesca.”

Valdemir desembarcou em São Paulo em 1988. A chegada foi difícil. “Fazia muito frio, era menor de idade e nunca tinha saído da casa dos meus pais. Larguei minha vida, minha adolescência e fui tentar uma vida que não conhecia.” A mãe, recorda-se, não queria que ele partisse. “Mas meu pai me deu apoio, com lágrimas nos olhos. Disse: ‘Vai lá, filho’.”

O retirante instalou-se num barraco de madeira em Barueri, Grande São Paulo. “Passei frio, fome, necessidade mesmo, coisa que meu pai até hoje não consegue me ouvir contar.” Sua vontade, desde logo, era voltar para São José da Coroa Grande. Não pensava em permanecer em São Paulo mais que um ano. Ficou quase 20.

Logo arrumou um emprego, concluiu os estudos e se tornou eletricista, profissão que exerceu, na informalidade, por 15 anos. Casou-se com uma conterrânea que conheceu numa das raras visitas à terra natal. “Sempre tive comigo que, se me casasse com uma paulista, não teria como voltar.” Comprou terreno, construiu sua casa e, anos mais tarde, teve uma filha, Rafaela, hoje com 14 anos.
Valdemir tentou retornar ao Nordeste em 2005, quando montou uma peixaria e construiu uma casa para a família em São José da Coroa Grande. A empreitada não vingou e o eletricista, desiludido, se viu, pela segunda vez, obrigado a se mudar para São Paulo. “Ainda tentei pescar, mas o sofrimento do pescador para conseguir o pão é muito grande. Minha vida é para minha filha. E eu me perguntava: que futuro eu vou dar a ela?”, conta. “Podia tentar o Bolsa Família, mas já tinha conseguido vencer em São Paulo. Queria viver em Pernambuco, mas, para mim, depender do governo era descer um degrau.”

Dois anos mais tarde, já em São Paulo, Valdemir vislumbrou uma nova chance. Ouviu de um cliente que um estaleiro seria construído no porto de Suape, entre os municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, a poucos quilômetros do Recife. Alguns meses depois, mandou um currículo e foi contratado para trabalhar na instalação do empreendimento. Acabou ficando. “Logo que cheguei, percebi que a jornada seria longa. Comecei a preparar a moradia e, em dois meses, trouxe a família toda.”

Inaugurado em agosto de 2008, o Estaleiro Atlântico Sul é o maior do País em capacidade. Marco na retomada da indústria naval brasileira, pode processar até 160 mil toneladas de aço por ano e produzir navios cargueiros de até 500 mil toneladas de porte bruto, além de plataformas de exploração de petróleo. Consumiu mais de 1,8 bilhão de reais em investimentos de seus acionistas, as construtoras Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e o grupo PJMR.

O complexo industrial portuário de Suape, onde se encontra o estaleiro, é o símbolo maior do crescimento “chinês” experimentado pelo Nordeste. Nos últimos anos, a região cresceu sistematicamente acima da média observada no resto do País. Em 2010, deve crescer 7,7%, segundo a última previsão da consultoria Datamétrica. Pernambuco deve registrar o melhor desempenho, com uma expansão próxima de 8%. Todos os estados deverão crescer acima da média brasileira.

Silvio Leimig, diretor da Suape Global, conta que, até 2006, em 28 anos de funcionamento, empresários investiram pouco mais de 2 bilhões de dólares no complexo. A partir de 2007, os investimentos anunciados passaram de 20 bilhões. Mais de cem empresas, entre brasileiras e multinacionais, operam no local. Outras 30 estão se instalando.

Os investimentos modificaram radicalmente a dinâmica econômica da região. Geraram dezenas de milhares de empregos a populações que tinham poucas alternativas à pesca e ao corte da cana-de-açúcar. Só o estaleiro empregou 4,5 mil trabalhadores. Empresas fornecedoras de produtos e serviços para o estaleiro abriram outras 20 mil vagas. O complexo vai abrigar uma das novas refinarias da Petrobras, Abreu e Lima, e outras duas plantas petroquímicas que, ao todo, vão gerar mais de 15 mil empregos.

Para quem vive na região, os empregos são mais do que uma oferta de trabalho, renda e estabilidade. Representam, em vez de uma estratégia de sobrevivência, um projeto de longo prazo. “Minha vida melhorou muito. Mudou meu modo de pensar, de planejar o futuro. Hoje posso dar um incentivo maior para que não só a minha filha, mas outras pessoas com quem convivo estudem e procurem uma profissão, porque as oportunidades estão surgindo”, afirma Valdemir, que acaba de concluir o curso técnico e já tem traçada sua próxima meta: ir para a universidade e cursar Engenharia Elétrica. “A história do navio aqui em Pernambuco não vai ter fim. Quanto mais me aprofundar, mais vou ter o que aprender”, afirma. Sua mulher, Juscélia, retomou os estudos, fez curso técnico de administração e informática. “Ela quer ter uma profissão e trabalhar aqui no complexo. Eu dou o maior apoio”, conta, orgulhoso.

“As pessoas nunca fizeram tantos planos. Vejo isso todo dia, no meu bairro, na igreja que frequento, no curso que faço”, resume Adriana de Almeida. Há pouco mais de dois anos no estaleiro, a jovem negra, de 33 anos, sorriso largo e tom professoral, sempre trabalhou em pequenos comércios, como lojas de roupa e mercados. “É como correr numa esteira. Os limites são estreitos, e você não vai a lugar nenhum.”
Depois de ficar desempregada por quase um ano, matriculou-se em um curso de soldagem e foi chamada para o estaleiro. Hoje, chefia 19 funcionários na área de logística. “Minha ambição é formar profissionais bons, gente que tem certeza do que quer. Muita gente ainda tem a imagem de que o nordestino é miserável, sofrido e não tem opções. Estamos mostrando o outro lado.”

Outro lado que muitas vezes aparece escondido sob velhas estruturas. Quem caminha desavisado pelas degradadas construções do Recife antigo não imagina que, dentro de muitos dos casarões e galpões herdados da economia colonial do século XVII, jovens programadores desenvolvem tecnologias de última geração, criam novas empresas e fazem fortunas.

O Porto Digital, polo tecnológico criado em 2000, reúne mais de 132 empresas de software, além de consultorias, prestadoras de serviço, representações públicas e acadêmicas. São grandes companhias como Motorola, Microsoft, IBM e Accenture, além de dezenas de pequenos e médios empreendimentos locais. Concentradas em uma área de cem hectares, produzem quase 4% de toda a riqueza de Pernambuco.

O porto é ainda uma referência no que diz respeito à articulação entre a universidade, o governo e os empreendedores privados. Inaugurado no ano 2000, suas bases remontam à década de 1970, quando a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) criou os cursos de graduação e mestrado em informática. Em 1985, um grupo de professores doutores, de volta do exterior, resolveu transformar o curso numa referência internacional. “Pernambuco começou a se destacar como um grande polo formador de capital humano na área de tecnologia da informação, com um núcleo de professores e acadêmicos muito forte e diferenciado”, conta Guilherme Calheiros, diretor de inovação e competitividade empresarial do núcleo gestor do porto.

Os acadêmicos acreditavam que os profissionais formados na UFPE não só seriam absorvidos pelas empresas locais, como ajudariam a desenvolver um mercado forte na área de informática. “Os professores nos diziam: vocês têm de concluir o mestrado logo, fazer o doutorado fora e voltar para ajudar a desenvolver Pernambuco”, conta Sérgio Cavalcante, que passou pelo mestrado entre os anos 1986 e 1988.
A capital pernambucana limitou-se, porém, a ser um exportador de profissionais de excelência. As empresas médias não se sensibilizaram, e os principais núcleos de informática da região – como o que funcionava dentro do Banco do Norte (Banorte) – foram retirados do Recife ou simplesmente dissolvidos com o processo de privatização e abertura econômica dos anos 1990.

A saída foi estimular o empreendedorismo. Em 1992, a universidade criou uma incubadora de empresas – batizada de Recife Beat, em homenagem ao movimento Mangue Beat. A iniciativa estimulou a criação de dezenas de pequenas empresas, muitas das quais naufragaram. “Foi um erro achar que essas companhias se desenvolveriam isoladas no Recife, porque o mercado estava em São Paulo”, observa Cavalcante.

Decidiu-se então criar uma instituição privada, sem fins lucrativos, que funcionasse como um guarda-chuva para criação de empresas e tivesse um nome respeitado o suficiente para fazer a diferença nos grandes mercados. Em 1996, nascia o premiado Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, o C.E.S.A.R, hoje presidido por Cavalcante.

Embrião do porto digital, o C.E.S.A.R deu origem a mais de 30 empresas de tecnologia. Tal como no Vale do Silício, nos Estados Unidos, muitos de seus funcionários – em geral, jovens programadores na casa dos 20 anos – vão trabalhar de camiseta e bermuda. Alguns de seus projetos são sigilosos, e o acesso às áreas em que são desenvolvidos é restringido até mesmo aos funcionários não envolvidos. Fotos e filmagens são terminantemente proibidas.

A constituição do parque tecnológico, quatro anos mais tarde, foi uma iniciativa do governo estadual, interessado em desenvolver as “tecnologias portadoras de futuro”. O resultado foi a criação de um dos ambientes mais ricos do País em inovação e empreendedorismo. O polo hoje emprega mais de 5 mil profissionais da área de informática.
Muitos querem mais que um bom emprego. É o caso de Guilherme Barreto, 24 anos, e Thiago Diniz, 23, sócios-diretores da Codemedia, uma empresa incubada no núcleo gestor do porto digital. Recém-formados em ciências da computação, os jovens criaram um código de barras digital para celular que substitui o uso de ingressos de papel em shows, jogos de futebol e convenções. O sistema, garantem, poderia colocar um fim no problema com cambistas em grandes eventos. “Ainda é um produto a ser aperfeiçoado, mas a ideia é que logo possamos vendê-lo a uma grande empresa”, explica Barreto.

No andar de baixo, Fred Vasconcelos, 37 anos, colhe os frutos da empresa que, tal como a Codemedia, nasceu de uma incubadora, ainda nos tempos do Recife Beat. Criada há dez anos, a Jynxs Playware é uma das pioneiras da indústria de games no Brasil. Com 34 funcionários, a empresa produz jogos corporativos para empresas como Petrobras, Sadia e Volkswagen e fatura 2,5 milhões de reais. “A Jynxs se tornou uma das maiores empresas do ramo no País e, sem dúvida, uma das mais estratégicas”, orgulha-se Vanconcelos. O Recife é responsável por 30% do mercado de games do Brasil.

A galinha dos ovos de ouro desse administrador de empresas é a Joy Street S.A., criada em 2008. A empresa projetou uma plataforma de jogos batizada de Olimpíadas da Educação, adotada pelas redes de ensino público de Pernambuco e do Rio de Janeiro com o objetivo de melhorar seus indicadores educacionais. “Neste ano devemos faturar 12 milhões de reais”, prevê o empresário.

A economia do Nordeste beneficiou-se, principalmente, de um modelo econômico que priorizou a demanda. A expansão dos programas sociais e, sobretudo, o aumento do salário mínimo tiveram, sobre a região, um impacto muito maior do que no restante do País. A economista Tânia Bacelar, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), lembra que metade das famílias que ganham um salário mínimo encontra-se no Nordeste. A população nordestina também absorve 55% do orçamento destinado ao Bolsa Família. “Pela estrutura de renda da região, mais baixa que no resto do País, o efeito das políticas que mexeram com a renda foi maior aqui. O aumento dessas receitas impulsionou o consumo e atraiu investimentos, especialmente dos grandes grupos de alimentos, bebidas, varejistas e distribuição de alimentos.”

Investimentos em infraestrutura, como a duplicação da BR-101, a transposição do Rio São Francisco e a construção da ferrovia Transnordestina, injetaram bilhões na economia e ajudaram a dinamizar a construção civil, assim como os investimentos da Petrobras – que asseguraram à indústria naval a demanda necessária para voltar a investir depois de mais de uma década sem produzir um único navio.
A interiorização das universidades federais e a criação de novos institutos tecnológicos também mudam a cara do Nordeste, especialmente de cidades médias. É o caso de Caruaru, um dos municípios que mais crescem em toda a região. Nos últimos anos, a “Princesa do Agreste”, mais conhecida por suas confecções e pelas feiras que movimentam milhões de reais, atraiu estudantes e professores de todos os lugares e observou uma profunda transformação em seus hábitos.

Kleber Oliveira, 23 anos, é testemunha dessas mudanças. Oliveira se mudou do Recife para Caruaru há quatro anos, interessado no curso de design com habilitação em moda oferecido pelo recém-inaugurado campus da UFPE na cidade. “Em 2006, a realidade era muito diferente. Não tínhamos onde comprar os materiais usados no curso, e encontrar um lugar decente para almoçar era difícil.”
Além do mais, o mercado de confecções, dominado por empresas informais e com pouca preocupação com a qualidade, não era o campo mais atrativo para quem quisesse ganhar dinheiro com design e moda. “Aqui sempre imperou a cultura da cópia. As confecções compravam roupas de grife importadas e simplesmente reproduziam aquele modelo”, lembra. Por isso, a opção de permanecer na cidade não lhe passava pela cabeça: “Caruaru era a minha última opção. Queria terminar o curso e voltar para o Recife”.

Hoje é possível tomar um bom macchiato, como dizem os italianos quando pingam uma gota de leite, na elegante bodega João Doutor, pedir um “número 1” no McDonald’s ou fazer a própria massa na rede Julietto. O Shopping Difusora, inaugurado neste ano, segue os mesmos padrões de qualquer grande empreendimento do tipo nas principais metrópoles, embora obviamente menor. “As opções de entretenimento cresceram muito. De três anos para cá surgiu uma dezena de bares para todos os tipos e gostos. Hoje tem bar de rock, reggae, samba, alternativo.”

A mudança mais sensível, afirma Oliveira, está no mercado de confecções. “Hoje está muito mais aberto. As empresas estão desenvolvendo suas áreas de criação. Eu mesmo desenvolvo coleções, quando solicitado”, afirma o designer, que já reconsiderou sua posição em relação a Caruaru. “Quero ficar por aqui e montar minha própria confecção”. Segundo ele, sua renda é quatro vezes maior do que de colegas de profissão no Recife. Ambição semelhante tem a estudante recifense Éricka Diniz, que pretende montar uma consultoria para “conscientizar” os empresários da região sobre a importância do design. “Tem muito projeto para desenvolver em Caruaru.”

Clarice Cardim, também do Recife, ainda vê com reservas o desenvolvimento da região. “O crescimento é absurdo, evidente, está em todo lugar, mas falta planejamento. A infraestrutura é ruim, o trânsito é caótico, os mapas do GPS não estão atualizados. E o empresariado ainda não tem nenhuma consciência de inovação. Só se pensa no lucro.” O outro lado é o aumento da violência e dos problemas com o crack. Em quatro anos, Oliveira foi assaltado oito vezes, “seis delas à mão armada”. Em 2003, o Nordeste ultrapassou o Sudeste e se tornou a região mais violenta do País, apesar da melhora dos indicadores sociais.

A outra face do “novo Nordeste” está no campo. Nas áreas de Cerrado, como no oeste da Bahia e no sul do Maranhão, o agronegócio avança e transforma chapadões em imensas propriedades de soja. No Semiárido, onde as condições são bem menos favoráveis, o aumento dos recursos destinados a financiar a agricultura familiar e o empreendedorismo dos pequenos ajudam a mudar a vida das pessoas.

É o que se observa em Picos, polo produtor de mel e caju no sertão do Piauí. A apicultura chegou à região – que ostenta um dos piores índices de desenvolvimento humano do País – há mais de 20 anos, mas sempre sofreu com a desorganização, a falta de planejamento e, sobretudo, de recursos em uma área assolada pela seca. “Em todo este tempo, vimos que apenas os atravessadores e vendedores de equipamento ganhavam dinheiro. Pouquíssimos produtores obtinham algum êxito”, afirma Antônio Leopoldino Dantas Filho, o Sitônio.

As coisas começaram a mudar no início da década, quando os produtores começaram a se organizar para superar suas dificuldades. O movimento resultou na criação da Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro, a Casa Apis. O objetivo, conta Sitônio, presidente da entidade, era organizar a produção e, sobretudo, centralizar a comercialização do mel na região. Pouco mais de 900 famílias integram o projeto e a meta é agregar 200 novas famílias por ano. A produção cresceu, de 3 mil para quase 5 mil quilos, e o produto passou a ser exportado. Mais importante, os produtores passaram a beneficiar o mel: construíram uma das mais modernas unidades de processamento da América Latina – um investimento de 2,1 milhões de reais.

A atividade melhorou a vida de muitos pequenos produtores. É o caso do Antônio José, que produzia feijão e mandioca em pouco mais de 10 hectares no município de Santana do Piauí, comunidade com pouco mais de 4 mil habitantes. “Eram culturas que não davam um bom rendimento. Os custos eram altos. Sobrava pouca coisa pra gente.” A apicultura, assegura, garantiu-lhe uma fonte de renda “extra e sustentável”. José começou com apenas sete caixas de abelhas. Atualmente, possui 150 enxames. É o suficiente para garantir uma renda de pouco mais de mil reais por mês. “Hoje a gente tem um padrão de vida melhor”, afirma o apicultor, que abandonou as outras culturas e vive exclusivamente da produção de mel. O produtor tem três filhos. A mais velha, com 18 anos, estuda Direito na Universidade Federal da Paraíba. Mais uma prova de que a região é o novo eldorado do Brasil.

post do cartacapital

sábado, 18 de dezembro de 2010

Lula devolve à UNE o que o Brasil lhe deve

Projeto de Niemeyer para o auditório da nova UNE. Cerra não está convidado


Saiu no Estadão, pág. A8 e numa manchete colossal na primeira página: “Governo libera verba milionária (sic) à UNE”.

“Nos últimos dias do governo Lula, R$ 30 milhões de indenização referente ao período da ditadura são depositados na conta da entidade.”

Num box “para entender” (sic), o Estadão “explica”:

A sede original da UNE (na Praia do Flamengo, no Rio), havia sido doada em 1942 por Vargas. “O espaço concentrou campanhas importantes (como a do “Petróleo é Nosso”, a Campanha da Legalidade de Brizola, e as Reformas de Base de Jango – PHA ) e atividades do movimento estudantil até 1º. de Abril de 1964, um dia após o Golpe Militar, quando o prédio foi destruído por um incêndio”.

Navalha

A UNE foi também uma escola de quadros políticos.

Aldo Arantes; Vinicius Brandt; Aldo Rebelo, Lindenbergh Farias, que liderou a campanha do impeachment de Collor e se elegeu agora senador pelo Rio; Orlando Silva, Ministro dos Esportes.

Quem também foi presidente da UNE e participou do Comício da Central pelas Reformas de Base de Jango foi o Padim Pade Cerra.

Mas, logo depois da intervenção militar, ele foi para o Chile.

Ele não viu a instituição que presidia pegar fogo.

Isso é que um líder de coragem !

E, uma vez, Cerra disse a um grupo de brasileiros exilados em Paris que, agora, o Governo Allende estava firme: Allende tinha acabado de nomear um Chefe do Estado Maior de confiança.

Sabe quem, amigo navegante ?

O Pinochet.

O que dá uma idéia da perspicácia do Padim Pade Cerra.

De todos os acima citados, Cerra foi o único que mudou de rumo.

Cerra hoje é o candidato à Presidência do Estadão.

Estadão esse que não foi capaz de manifestar qualquer perplexidade ou indignação com o incêndio do prédio da UNE, na sequência da intervenção militar.

Foi, digamos assim, para o Estadão, um incêndio normal.

Um incêndio do Reichstag numa nice.

E sobre os R$ 40 milhões ?

R$ 40 milhões ?

Isso é dinheiro de pinga para a Chevron.

Cada três minutos de ligação da Chevron do Brasil para os Estados Unidos para contar que o Cerra ia meter a mão no pré-sal saem mais caros do que o dinheiro que o Brasil deve à união dos estudantes.

Em tempo: para quem não conhece a geografia do Rio ou faltou à aula de História, o prédio da UNE fica perto de onde morava o Carlos Lacerda.

Que sofreu muito com a vizinhança.



Paulo Henrique Amorim